domingo

O coração resgatado



Janaína Amado (org.) Jacinta Passos, coração militante. (2010) Salvador: EDUFBA e Editora Corrupio.

Fico imaginando o que significou para a historiadora Janaína Amado a pesquisa, organização e preparação da história de sua própria mãe, cuja obra ameaçava se perder. Num volume de 574 páginas, Janaína registrou o que ela escreveu em vida – seus quatro livros publicados, obras esparsas, textos de vários gêneros, manuscritos em cadernos (dos quais muitos não foi possivel recuperar) e os textos jornalísticos.
Além da obra escrita, o livro traz a biografia detalhada da militante Jacinta, cujo texto, uma narrativa preparada com carinho e seriedade, foi enriquecido por inúmeros depoimentos de parentes, amigos, correligionários e tanta gente que teve contato com ela. Descreve ainda as dificuldades e o sofrimento da poeta e jornalista, de quem ela diz, na apresentação da obra:
“Pagou um preço altíssimo por derrubar tantas barreiras, na contramão da vida, na construção do caminho duro de seus ideais. Afirmou-se como mulher e intelectual, mas sua existência foi muito difícil, marcada por rupturas, fortes desilusões, crises psicológicas. Foi excluída, perseguida, presa, internada em sanatórios.”
Tais dificuldades, que terminaram por afastá-la da mãe ainda bem cedo, na infância, não impediram que sua filha preservasse, com cuidado e carinho, a memória e o trabalho dessa mulher singular, que literalmente deu a vida por uma causa.  
Janaína coligiu ainda a importante fortuna crítica referente ao trabalho de Jacinta, textos assinados por intelectuais de importância em sua época, como Antônio Cândido, José Paulo Paes, Sérgio Milliet e muitos outros, assim como textos mais recentes, preparados especialmente para figurar no livro.
Quero agradecer a Janaína a dádiva de conhecer esse livro, uma edição bem cuidada, perfeita e belíssima, não só pelo magnífico conteúdo e pelo trabalho gráfico de alta qualidade, como pelo carinho com que foi preparado. Um livro que testemunha o que podem o amor e a dedicação, e agora brilha aqui em minha estante. Obrigada mesmo, Janaína, também pela delicadeza do presente e pela alegria que me deu.



sábado

Ser tímido é...



A timidez costuma interferir na comunicação entre as pessoas, especialmente se for em excesso. Uma das causas disso é uma delicadeza de espírito do tipo que deixa você invisível. Acontece, quando se teme mais que tudo magoar alguém, abusar de sua paciência ou incomodar quem parece distraído ou ligado em outras coisas que não o assunto que nos interessa no momento.
Frequentemente a raiz disso tudo é mais funda do que se imagina e invisível a olho nu, porque quase sempre alguém se torna assim tão tímido por conta de uma baixa autoestima que o torna inseguro e limita sua capacidade de avaliar as coisas de modo mais objetivo e/ou pragmático. E a baixa estima por si próprio pode ter sido causada por interferências externas, bullying severo, violência doméstica ou intenso sentimento de medo sofridos na infância.
O tímido é, quase sempre, alguém de pouco senso prático e baixo poder de decisão. O que ele deseja torna-se sem importância e pode mesmo ficar momentaneamente esquecido, diante de interesses e desejos alheios, que sempre privilegia. Paga um preço muito alto por isso – quase sempre frustrado, e em muitos casos ressentido. Sente-se passado pra trás, quando na verdade ele mesmo se colocou nessa posição. Pouco importa: o sentimento de mágoa por ter sido desprezado é o mesmo. Continuará sempre cheio de dedos para lidar com o próximo, o que vai desicentivá-lo de conseguir o que no fundo mais deseja.
Esse ser contraditório e sofredor pode também se explicar por algum tipo de fobia social, pré ou pós adquirida aos traumas psíquicos por que passou ou passa. De certa forma, esse seria um resultado mais extremo o fenômeno.
Mas existem formas de timidez que fogem a essa fórmula. São traços de personalidade, características de temperamento que não interferem no comportamento dito normal nem impedem o tímido de se realizar na vida. Nesses casos, a timidez pode ser encantadora, confunde-se com ou torna-se a delicadeza que todos desejamos encontrar no próximo. Coisa tão mais desejada quanto mais rara vai ficando

 
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All the things you are


O que tudo isso quer dizer?

Começou com a pobreza extrema da maior parte da população, o que, como todos sabemos, leva inevitavelmente a  jeitinhos para sobreviver. Não falo só de nosso século nem do século passado, mas de um estado de coisas que começou com a colonização e piorou com a chegada de um povo de pele escura, arrancado de sua terra de origem para servir às classes mais abastadas, mas nada esclarecidas.
Daquele tempo até aqui, a civilização do jeitinho desenvolveu um know-how admirável no Brasil e se estabeleceu de vez entre um número crescente de pessoas, obrigadas a levar a vida de forma precária, inventando expedientes para não morrer à míngua. As favelas  surgiram e grassaram nas cidades. Os números falam por si, porque ninguém escolhe morar na favela. Famílias inteiras tiveram que se adaptar à vida suada e desorganizada que é preciso enfrentar quando se nasce no meio do caos, urbano ou não. É preciso comer e vestir, dar de comer à família. É preciso morar em algum lugar. Assim como é preciso de alguma forma ter um refresco na vida, uma diversão qualquer, um jeito de se manter à tona para respirar.
Segundo a CIA World Factbook, o Brasil de 2009 estava em 65º lugar numa lista de 145 países, quanto ao número de habitantes abaixo da linha de pobreza (população de 198.739.269 x31%= 61.609.173,39 de miseráveis).
O ranking citado pelo Relatório de Desenvolvimento Humano de 2004 analisava as condições de 177 países quanto ao bem-estar social:
“A desigualdade na distribuição de renda no Brasil o deixou na quarta posição entre os países mais desiguais do mundo, atrás apenas de Namíbia, Lesoto e Serra Leoa, todos na África Subsaariana, continente com os piores indicadores sociais do mundo.
O Brasil se iguala aos países africanos na fatia que os 10% mais pobres têm na renda nacional: apenas 0,5% [...]. O que evita que o Brasil seja o primeiro em desigualdade é a renda dos mais abastados”: os 10% mais ricos ficam com 46,7% da riqueza brasileira, enquanto na Namíbia, por exemplo, eles têm 64,5%.*
Dirão alguns experts em ciências ligadas ao social que muita gente de grana adere a recursos escusos por falta de ética e por maucaratismo. Isso existe mesmo – temos exemplos diários aos montes. Sonegadores, golpistas, achacadores, corruptos contumazes de todas as classes ou até assassinos e agressores, matadores covardes de mulheres, abusadores de menores, farinha do mesmo saco. Ter dinheiro não torna uma pessoa decente, porque não é o colégio de elite nem o conforto por si sós que definem o caráter de alguém. Personalidades deformadas existem em qualquer classe em todos os países do mundo.
Mas há gente que, seja qual for o nível de renda, ainda age como se vivesse na penúria em que viveram antepassados seus. Antes de subir na escala social, a família comeu o pão que o diabo amassou e teve que lançar mão do famigerado jeitinho para sobreviver. Essa mentalidade passa de geração em geração, pelo simples fato de que é em casa, com os pais e os avós, que se forma o caráter das pessoas.
Não é difícil entender que muitos descendentes seus tenham generalizado um comportamento não-ético e aceitem ainda, como gestos naturais, jogar lixo na rua, furar fila, dirigir alcoolizado, desrespeitar a lei do silêncio, praticar o gato, ultrapassar pelo acostamento ou estacionar em lugar proibido, para dizer o mínimo. "Tirar vantagem em tudo" foi um lema divulgado há menos de 20 anos numa propaganda que marcou época na mídia. Vai levar muito tempo pra mudar isso, se é que vai mudar algum dia. Talvez o Brasil esteja mesmo fadado a ser eternamente o país do jeitinho. Mas será só o Brasil?

Dicas e sínteses


Duy Huynh. Círculo completo.


Se você se interessa por artes plásticas, visite esse site e conheça, um a um, os quadros de Duy Huynh. Vale a pena. O vietnamita lembra um pouco o americano Justin Bua, por alguns temas. Mas sua pintura é mais lírica, mais fluida, com toques de surrealismo. Às vezes tem-se a impressão de que ele conviveu com Magritte também.

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                    A partir de 'O legado de Lula', segundo The Economist ...

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... o melhor é votar em Marina, que tem vida própria.






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Na Folha: Paul McCartney manda carta de apoio a George Michael, preso por dirigir fumado.


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Minis


Suas últimas palavras: não está carregado.



Sopa fervendo. Precisou implantar outra língua.


Tão frio que ganhou um caixão de aniversário.